Já
escrevi algumas vezes a respeito de Zen e
a Arte da Manutenção de Motocicletas: uma investigação sobre os valores, de
Robert Pirsig, aqui no blog. E creio que a passagem que transcrevo abaixo já
deve ter aparecido no Página Virada uma ou outra vez. Mas vamos de novo com
Pirsig.
Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas é o relato romanceado de uma viagem
de moto feita pelo autor e seu filho Chris, em companhia de um casal de amigos,
por vários estados americanos em 1968. No livro, Pirsig trata de filosofia,
ciência, motocicletas (mas nem tanto quanto o título da obra nos faz supor),
sanidade e loucura, entre outros temas. Confesso que discordo de praticamente
tudo o que Pirsig afirma sobre o que é fazer ciência, mas Zen é uma de minhas leituras prediletas, especialmente pelo
conteúdo humano e pelas lições de Pirsig ao seu filho, às vezes confusas,
considerando que Pirsig é esquizofrênico e um sujeito com forte tendência à misantropia.
Também considero o desfecho da obra um dos
melhores que já li. Quase ao final dos 17 dias de viagem, Chris estava cansado
da vida na estrada e queria voltar para casa. O desgaste da jornada, o calor, a
aparente falta de sentido naquilo que faziam, tudo favorecia a exaltação dos
ânimos entre pai e filho. Com os problemas resolvidos, Pirsig e seu filho
decidiram pela volta. Feliz, aliviado, e entendendo o valor do momento, Pirsig
arrematou:
“Naturalmente, os problemas jamais deixarão
de existir. A infelicidade e o infortúnio fatalmente ocorrerão em nossas vidas,
mas agora sinto algo que antes não sentia, que não se localiza apenas na
superfície das coisas, mas as permeia até a medula: nós vencemos. Agora tudo
vai melhorar. A gente pode até garantir.”
Pirsig tinha razão ao afirmar que a
infelicidade e o infortúnio estão batendo à nossa porta, e podem nos
surpreender a qualquer momento. Chris foi morto 11 anos depois da viagem, ao
ser abordado por um ladrão e atingido por ele com um golpe de faca, experiência
relatada pelo autor em um posfácio publicado nas últimas edições de Zen. Dois anos depois da morte de Chris,
Pirsig teve uma filha, Nell. Em 1991, Pirsig escreveu Lila: uma investigação sobre a moral, seu segundo e último livro. O
autor está com 84 anos, recluso em sua casa no Maine, nordeste dos Estados Unidos.
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