Deitados
eternamente em berço esplêndido, nós, brasileiros, ainda não compreendemos o
real valor da educação para o desenvolvimento de nosso país, e por isso não nos
causa nenhum embaraço perceber que estamos em penúltimo lugar em um ranking que
mede o desempenho educacional em 40 países. Não gosto de ver a educação
reduzida a números e índices, mas creio que essa avaliação não esteja muito
distante da realidade.
O
que acontece em nossas escolas deveria ser motivo de preocupação para todos nós.
Infelizmente, parte considerável dos alunos deixa o Ensino Básico sem sequer saber
interpretar textos e expressar claramente suas ideias. A concepção que muitas
pessoas têm a respeito do papel das escolas também me parece deturpada: para elas,
a educação formal serve somente como um meio de treinar indivíduos para o
mercado de trabalho. Estamos perdendo a ideia de que a escola é importante para
o aprimoramento pessoal dos estudantes através de disciplinas como as artes, a
filosofia e a educação física, que abordam aspectos de nossas vidas que o
tecnicismo de outras disciplinas não é capaz de tratar. Além disso, mesmo as
disciplinas consideradas mais técnicas são consideradas apenas como um meio
para se ter sucesso em testes como o vestibular ou o Enem, e não como fontes de
conceitos e habilidades que devemos incorporar para o uso em situações
cotidianas.
Em
The Meaning of Things (ainda sem edição
no Brasil), o filósofo A. C. Grayling fala exatamente disso, no verbete “Educação”:
“Por educação liberal entende-se uma educação
que inclua a literatura, a história e a apreciação das artes, e dê a elas um
peso igual ao dado a temas científicos e práticos. A educação nessas
disciplinas nos abre a possibilidade de viver de modo mais reflexivo e
informado, especialmente no que diz respeito à amplitude da experiência e
sentimentos humanos... Isso, por sua vez, nos faz entender melhor os
interesses, necessidades e desejos dos outros, para que possamos tratá-los com
respeito e simpatia, não importa quão diferentes sejam as escolhas que eles
fazem ou as experiências que moldaram as suas vidas.”
“... pois o objetivo da educação liberal é
produzir pessoas que continuem a aprender depois que sua educação formal
terminou; pessoas que pensem, questionem, e saibam encontrar respostas quando
precisarem delas.”
“Aristóteles disse que educamos a nós mesmos para
que possamos fazer nobre uso do nosso lazer; essa é uma visão diretamente
oposta à crença contemporânea que nós nos educamos para conseguir um emprego.
Assim, a visão contemporânea distorce o propósito da educação escolar ao ter
como objetivo não o desenvolvimento dos indivíduos como um fim em si mesmo, mas
como um instrumento no processo econômico.”
“Acima de tudo, a educação envolve refinar as
capacidades para o julgamento e a avaliação; Heráclito comentava que a
aprendizagem é somente um meio para um objetivo, que é o entendimento – e entendimento
é o valor supremo em educação.”
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