Nunca
tive simpatia por posições políticas extremas. Não penso que o governo deva
regular todos os aspectos da vida das pessoas, mas também não concordo com quem
afirma que as pessoas devem ser totalmente livres em relação ao Estado. Creio
que determinados serviços, como a saúde e a educação, mesmo quando oferecidos
por instituições particulares, devem estar sob uma regulação rígida do Estado.
Quando tratamos dessas questões, vamos além do que é direito individual e
entramos na consideração de interesses da comunidade e do país. É um direito de
todos ganhar dinheiro, ter uma boa vida e, também, enriquecer com o trabalho
feito. No entanto, não vejo mérito nenhum na ação de alguém que cobra (um valor
alto, na maioria dos casos) por um serviço essencial, o executa de modo ruim e
consegue manter um altíssimo padrão de vida com o lucro desse serviço mal feito.
Posso estar vivendo em um mundo paralelo
e romântico, mas não consigo aceitar que empresas que lidam com planos de saúde
possam patrocinar clubes de futebol ao mesmo tempo em que cobram taxas abusivas
de seus usuários e, não raramente, os abandonam ou prestam serviços de baixa
qualidade quando os pacientes mais necessitam. Companhias estatais patrocinando
clubes de futebol? Isso deveria soar como uma piada de mau gosto, mas é a
infeliz realidade por aqui.
Também não acredito que instituições
educacionais possam funcionar como empresas, e colocar como seu objetivo
principal o próprio lucro e o de seus acionistas, em detrimento de um serviço
educacional de boa qualidade. Enquanto partidários de PT e PSDB derramam
acusações uns contra os outros em relação a quem é o culpado pela péssima
qualidade da educação brasileira, eles deveriam se abraçar e chorar juntos, já
que têm a mesma responsabilidade pela tragédia. Na época de FHC o governo
incentivou a abertura de grupos educacionais privados, com regulações muito
brandas, e o governo Lula manteve uma política parecida, pouco ou nada fazendo
contra os abusos dessas instituições. A situação chegou a ponto de encontrarmos
faculdades que permitem que mais de cem alunos compartilhem a mesma sala, uma
visão que parece a de um depósito de pessoas, não de uma instituição
educacional. Talvez eu esteja cismado com isso, mas não me sujeitaria a uma
operação com um médico advindo de tal “enturmação”, e também minha casa não
seria elaborada por um engenheiro ou arquiteto que cursou uma instituição na
qual a educação e a formação profissional estão em segundo plano.
Temos um longo caminho pela frente para
trabalhar por melhorias na educação, assim como nos demais setores da
sociedade. O primeiro passo é conhecer, informar-se, e pensar criticamente para
não ser mais um a ser manobrado por parasitas políticos. Aliás, um dos antigos
argumentos sobre o porquê da educação brasileira ser tão ruim era justamente
esse: um povo desinformado e pouco educado é o sonho de todo vigarista que
assume um cargo político, pois assim pode manipular as pessoas e tratar como
benefícios tudo aquilo que são suas obrigações. Nesse aspecto, minha impressão
é que as coisas não mudaram significativamente nas últimas décadas.
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