quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A mercantilização do ensino no Brasil


Nunca tive simpatia por posições políticas extremas. Não penso que o governo deva regular todos os aspectos da vida das pessoas, mas também não concordo com quem afirma que as pessoas devem ser totalmente livres em relação ao Estado. Creio que determinados serviços, como a saúde e a educação, mesmo quando oferecidos por instituições particulares, devem estar sob uma regulação rígida do Estado. Quando tratamos dessas questões, vamos além do que é direito individual e entramos na consideração de interesses da comunidade e do país. É um direito de todos ganhar dinheiro, ter uma boa vida e, também, enriquecer com o trabalho feito. No entanto, não vejo mérito nenhum na ação de alguém que cobra (um valor alto, na maioria dos casos) por um serviço essencial, o executa de modo ruim e consegue manter um altíssimo padrão de vida com o lucro desse serviço mal feito.
        Posso estar vivendo em um mundo paralelo e romântico, mas não consigo aceitar que empresas que lidam com planos de saúde possam patrocinar clubes de futebol ao mesmo tempo em que cobram taxas abusivas de seus usuários e, não raramente, os abandonam ou prestam serviços de baixa qualidade quando os pacientes mais necessitam. Companhias estatais patrocinando clubes de futebol? Isso deveria soar como uma piada de mau gosto, mas é a infeliz realidade por aqui.
        Também não acredito que instituições educacionais possam funcionar como empresas, e colocar como seu objetivo principal o próprio lucro e o de seus acionistas, em detrimento de um serviço educacional de boa qualidade. Enquanto partidários de PT e PSDB derramam acusações uns contra os outros em relação a quem é o culpado pela péssima qualidade da educação brasileira, eles deveriam se abraçar e chorar juntos, já que têm a mesma responsabilidade pela tragédia. Na época de FHC o governo incentivou a abertura de grupos educacionais privados, com regulações muito brandas, e o governo Lula manteve uma política parecida, pouco ou nada fazendo contra os abusos dessas instituições. A situação chegou a ponto de encontrarmos faculdades que permitem que mais de cem alunos compartilhem a mesma sala, uma visão que parece a de um depósito de pessoas, não de uma instituição educacional. Talvez eu esteja cismado com isso, mas não me sujeitaria a uma operação com um médico advindo de tal “enturmação”, e também minha casa não seria elaborada por um engenheiro ou arquiteto que cursou uma instituição na qual a educação e a formação profissional estão em segundo plano.
        Temos um longo caminho pela frente para trabalhar por melhorias na educação, assim como nos demais setores da sociedade. O primeiro passo é conhecer, informar-se, e pensar criticamente para não ser mais um a ser manobrado por parasitas políticos. Aliás, um dos antigos argumentos sobre o porquê da educação brasileira ser tão ruim era justamente esse: um povo desinformado e pouco educado é o sonho de todo vigarista que assume um cargo político, pois assim pode manipular as pessoas e tratar como benefícios tudo aquilo que são suas obrigações. Nesse aspecto, minha impressão é que as coisas não mudaram significativamente nas últimas décadas.

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