Nos
últimos anos, aqui no Brasil, se discute o que as escolas devem fazer com o
resultado de exames como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica),
cujo objetivo é “medir a qualidade de cada escola e cada rede de ensino” a
partir dos resultados de alguns exames e de taxas de aprovação e evasão
escolar. Para alguns, a educação pode ser reduzida a números e avaliações.
Assim, se a escola A atingiu o índice de 5.5, ela está em melhores condições
que a escola B, que atingiu 5.0 (a escala vai de 0 a 10). A intenção desse tipo
de avaliação é nobre, pois a princípio os testes pretendem identificar escolas
com maiores deficiências para então encaminhar as soluções adequadas. No
entanto, várias armadilhas podem aparecer a partir dos resultados dos testes, e
uma delas tem sido vendida com alguma habilidade por “especialistas” em
educação (aqueles sujeitos que escrevem sobre educação para revistas semanais,
mas nunca pisaram em uma escola de Ensino Básico desde que terminaram o Ensino
Médio): a responsabilização de professores pelos resultados obtidos pelas
escolas nos exames.
Os defensores da responsabilização dos
professores pelos índices das avaliações institucionais sugerem que os
docentes, e somente eles, são os responsáveis pelo desempenho dos estudantes. Com
esse raciocínio em mente, se os alunos fazem boas provas, a escola é bem
avaliada e seus professores são considerados bons. Caso contrário, é preciso
reavaliar o corpo docente, punir professores e até demiti-los.
Sou professor, mas não sou corporativista.
Se existem maus profissionais, é necessário que eles participem de programas de
formação ou de quaisquer outras atividades que tenham como objetivo a melhoria
de sua atividade docente. E se realmente for constatado que o sujeito não tem
condições de estar em uma sala de aula, ele deve ser afastado da escola e
procurar outra atividade. O que não consigo entender é a ideia de que os testes
dos alunos sejam o principal meio de punir, ou de recompensar, professores.
Trago o assunto ao blog porque reli,
recentemente, alguns trechos de Vida e
Morte do Grande Sistema Escolar Americano: como os testes padronizados e o
modelo de mercado ameaçam a educação, de Diane Ravitch (Sulina, 2011), um
obra importante para se entender muitas das questões atuais da educação.
Ravitch é uma crítica do sistema de testes padronizados, e discute o tema em
várias passagens de seu livro. Eis uma delas:
“As nossas escolas não irão melhorar se nós
continuarmos a focar apenas na leitura e na matemática, enquanto ignoramos os
outros estudos que são elementos essenciais de uma boa educação. As escolas que
não esperam nada mais de seus estudantes do que o domínio de habilidades
básicas não produzirão egressos que estejam prontos para a universidade ou para
o mercado de trabalho moderno. Tampouco elas irão produzir homens e mulheres
preparados para projetar novas tecnologias, realizar descobertas científicas ou
desempenhar feitos de engenharia. Os seus graduados também não estarão
preparados para apreciar e agregar às realizações culturais de nossa sociedade
ou a compreender e fortalecer sua herança democrática. Sem uma educação compreensiva
das artes, nossos estudantes não estarão preparados para as responsabilidades
da cidadania em uma democracia, e não estarão equipados para tomar decisões
baseados em conhecimento, refletido debate e razão.
As nossas escolas não melhorarão se nós valorizarmos apenas o que os
testes mensuram. Os testes que nós temos hoje proporcionam informações úteis
sobre o progresso dos estudantes em leitura e em matemática, mas eles não podem
mensurar o que mais importa na educação. Nem tudo o que importa pode ser
quantificado. O que é testado pode em última análise ser menos importante do
que o que não é testado, como a habilidade de um estudante de encontrar
explicações alternativas, levantar dúvidas, buscar o conhecimento por conta
própria e pensar de forma diferente. Se nós não valorizarmos os nossos
individualismos, perderemos o espírito de inovação, imaginação, investigação e
divergência que têm contribuído poderosamente para o sucesso de nossa sociedade
em muitos diferentes campos.
As nossas escolas não irão melhorar se
confiarmos exclusivamente nos testes como um meio de decidir o destino de
estudantes, professores, diretores e escolas. Quando os testes são um método
primário de avaliação e responsabilização, todos se sentem pressionados a
elevar os escores, por bem ou por mal. Alguns irão trapacear para obter uma
recompensa ou evitar a humilhação... Quaisquer ganhos nos escores dos testes
que sejam o resultado apenas de incentivos não significam nada, pois os ganhos
que são comprados com dinheiro são fugazes e nada têm a ver com a verdadeira
educação.”
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