sábado, 26 de janeiro de 2013

Testes nas escolas e a responsabilização do professor


Nos últimos anos, aqui no Brasil, se discute o que as escolas devem fazer com o resultado de exames como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), cujo objetivo é “medir a qualidade de cada escola e cada rede de ensino” a partir dos resultados de alguns exames e de taxas de aprovação e evasão escolar. Para alguns, a educação pode ser reduzida a números e avaliações. Assim, se a escola A atingiu o índice de 5.5, ela está em melhores condições que a escola B, que atingiu 5.0 (a escala vai de 0 a 10). A intenção desse tipo de avaliação é nobre, pois a princípio os testes pretendem identificar escolas com maiores deficiências para então encaminhar as soluções adequadas. No entanto, várias armadilhas podem aparecer a partir dos resultados dos testes, e uma delas tem sido vendida com alguma habilidade por “especialistas” em educação (aqueles sujeitos que escrevem sobre educação para revistas semanais, mas nunca pisaram em uma escola de Ensino Básico desde que terminaram o Ensino Médio): a responsabilização de professores pelos resultados obtidos pelas escolas nos exames.
   Os defensores da responsabilização dos professores pelos índices das avaliações institucionais sugerem que os docentes, e somente eles, são os responsáveis pelo desempenho dos estudantes. Com esse raciocínio em mente, se os alunos fazem boas provas, a escola é bem avaliada e seus professores são considerados bons. Caso contrário, é preciso reavaliar o corpo docente, punir professores e até demiti-los.
   Sou professor, mas não sou corporativista. Se existem maus profissionais, é necessário que eles participem de programas de formação ou de quaisquer outras atividades que tenham como objetivo a melhoria de sua atividade docente. E se realmente for constatado que o sujeito não tem condições de estar em uma sala de aula, ele deve ser afastado da escola e procurar outra atividade. O que não consigo entender é a ideia de que os testes dos alunos sejam o principal meio de punir, ou de recompensar, professores.
   Trago o assunto ao blog porque reli, recentemente, alguns trechos de Vida e Morte do Grande Sistema Escolar Americano: como os testes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação, de Diane Ravitch (Sulina, 2011), um obra importante para se entender muitas das questões atuais da educação. Ravitch é uma crítica do sistema de testes padronizados, e discute o tema em várias passagens de seu livro. Eis uma delas:

As nossas escolas não irão melhorar se nós continuarmos a focar apenas na leitura e na matemática, enquanto ignoramos os outros estudos que são elementos essenciais de uma boa educação. As escolas que não esperam nada mais de seus estudantes do que o domínio de habilidades básicas não produzirão egressos que estejam prontos para a universidade ou para o mercado de trabalho moderno. Tampouco elas irão produzir homens e mulheres preparados para projetar novas tecnologias, realizar descobertas científicas ou desempenhar feitos de engenharia. Os seus graduados também não estarão preparados para apreciar e agregar às realizações culturais de nossa sociedade ou a compreender e fortalecer sua herança democrática. Sem uma educação compreensiva das artes, nossos estudantes não estarão preparados para as responsabilidades da cidadania em uma democracia, e não estarão equipados para tomar decisões baseados em conhecimento, refletido debate e razão.
   As nossas escolas não melhorarão se nós valorizarmos apenas o que os testes mensuram. Os testes que nós temos hoje proporcionam informações úteis sobre o progresso dos estudantes em leitura e em matemática, mas eles não podem mensurar o que mais importa na educação. Nem tudo o que importa pode ser quantificado. O que é testado pode em última análise ser menos importante do que o que não é testado, como a habilidade de um estudante de encontrar explicações alternativas, levantar dúvidas, buscar o conhecimento por conta própria e pensar de forma diferente. Se nós não valorizarmos os nossos individualismos, perderemos o espírito de inovação, imaginação, investigação e divergência que têm contribuído poderosamente para o sucesso de nossa sociedade em muitos diferentes campos.
   As nossas escolas não irão melhorar se confiarmos exclusivamente nos testes como um meio de decidir o destino de estudantes, professores, diretores e escolas. Quando os testes são um método primário de avaliação e responsabilização, todos se sentem pressionados a elevar os escores, por bem ou por mal. Alguns irão trapacear para obter uma recompensa ou evitar a humilhação... Quaisquer ganhos nos escores dos testes que sejam o resultado apenas de incentivos não significam nada, pois os ganhos que são comprados com dinheiro são fugazes e nada têm a ver com a verdadeira educação.

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