Entre
minhas releituras de férias está Tudo o
Que Sei Aprendi Com a TV: a filosofia nos seriados de TV, de Mark Rowlands
(Ediouro, 2008). No livro, Rowlands usa séries de TV para introduzir temas
filosóficos, como o sentido do amor, a felicidade, o bem e o mal, e a
moralidade. O trecho abaixo está no capítulo em que Rowlands trata do amor e da
amizade, tendo a série Friends como pano
de fundo:
“Aristóteles
argumentava que o tipo de pessoa que gostaríamos de ter como amigos são aqueles
semelhantes a nós no caráter, que não guardam rancor, que têm o mesmo objetivo,
desejos e aspirações que nós, que têm um temperamento calmo e moderado, que são
justos e imparciais, que nos admiram e a quem admiramos, e assim por diante.
Não é divertido andar com pessoas briguentas ou muito agressivas, ou que
começam a fazer fofoca assim que você dá as costas, ou que humilham você na sua
cara. Também não é divertido andar com pessoas injustas ou parciais – talvez porque
esperem muito mais de você do que estão dispostas a oferecer em troca. Ou que
estejam tão absorvidas consigo mesmas que adoram falar sobre si mesmas e sobre
o que está acontecendo com elas, e cortam você tão logo tente falar sobre o que
está acontecendo com você. Todos conhecemos gente assim.
Se há duas coisas que se destacam do que
Aristóteles escreveu sobre a amizade, essas são (1) igualdade e (2) empatia. A
verdadeira amizade só pode existir entre pessoas que são iguais, pelo menos
aproximadamente. Não dá para ser amigo de uma pessoa pegajosa; também não dá
para ser amigo de alguém que se acha superior. Mas é mais do que igualdade
aproximada. É a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, entender o
que está pensando ou sentindo, perdoar quando se deve perdoar, e dizer o que
pensa quando achar que isso é necessário. Trata-se de um equilíbrio delicado:
existe uma linha tênue entre o perdão e a negligência da amizade, e mais tênue
ainda entre dar sua opinião e ser intrometido ou opressor. Esse equilíbrio pode
ser alcançado algumas vezes – mas é muito difícil de manter o tempo todo. Mas
uma coisa é clara. Pelo que diz Aristóteles, as melhores pessoas produzem os
melhores amigos – é por isso que Aristóteles dedica a maior parte de sua famosa
obra sobre a ética, Ética a Nicômaco,
à questão de como ser uma pessoa digna de amizade ou philia. Ser uma pessoa ética ou moral, para Aristóteles, é parte e
parcela do projeto de se tornar alguém que as pessoas irão querer como amigo.
Essa é uma das razões mais importantes para ser uma boa pessoa – uma boa pessoa
tem bons amigos.
Reconhecemos que há tipos de amizade
inferiores. E, para muitos de nós, isso pode parecer deprimentemente familiar. O
tipo de amizade mais baixa baseia-se no prazer ou utilidade proporcionados pela
companhia do outro. Talvez você precise de companhia para cair na farra, por
exemplo. Pode não aguentá-los quando está sóbrio, mas a bebida alivia o
aborrecimento. Além disso, pode se livrar deles depois. Ou talvez simplesmente
seja útil ser visto com alguém. As amizades inferiores são passatempos – uma maneira
de matar o tempo ou de conseguir algo que você quer independentemente da
amizade. As amizades inferiores são, numa palavra, um meio, e não um fim. E uma
vez alcançado o fim, ou caso você perceba que ele nunca será alcançado, a
amizade acaba.”
Obrigada pela reflexão Guilherme.
ResponderExcluirNão sou favorável a relacionamentos por interesse, sejam quais forem. É muita superficialidade, muito egoísmo e pouco se aproveita disso.
Concordo, Ceres,
ResponderExcluirE por isso é difícil achar mais de meia dúzia de pessoas a quem podemos chamar verdadeiramente de "amigos".
Um abraço
Guilherme