Vários foram os livros que me marcaram ao longo de minha decana trajetória de leitor. O mais recente a ter me causado aquela sensação rara de prazer de degustar algo sublime foi “Se um Viajante numa Noite de Inverno”, do italiano Ítalo Calvino (1923 – 1985). Nesse romance, Calvino transforma o próprio leitor em personagem principal da narrativa, ao longo da qual vai debatendo temas concernentes ao universo da leitura e dos livros. A intertextualidade é a tônica da obra, em que acompanhamos as agruras do personagem que deseja evitar cruzar a tentadora linha que separa o simples leitor do fazedor de literatura, bem como os dilemas que assolam a dupla formada pelo escritor produtivo e o escritor atormentado, vizinhos que se monitoram um ao outro durante a produção de suas obras.
Tudo isso conduzido com o gênio narrativo de Calvino, que nos apresenta aqui o ápice de seu estilo erudito e irônico, sem ser pedante. Na verdade, descobri em “Se um Viajante...” a profundidade do humor com que Calvino trabalha seus livros, todos eles eminentemente alegóricos. Li o livro em 2003 e, a partir dali, mergulhei em uma caça sistemática a toda a obra do autor publicada no Brasil (que é vasta, mas ainda não completa) e devorei tudo. Ler Calvino é um prazer imenso, e consta em meus planos futuros empreender uma releitura geral.
*Marcos Fernando Kirst é jornalista e escritor. Foi o patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul de 2010. Informações sobre suas obras, e os textos que Marcos escreve semanalmente para diversos jornais e revistas, podem ser acessados em seu blog Futilidades Literais.
"Ler Calvino é um prazer imenso, e consta em meus planos futuros empreender uma releitura geral."
ResponderExcluirE eu não poderia deixar de fazer coro. Foi ali por 2001, 2002 também que eu acabei conhecendo Calvino através de "Um general na Biblioteca", e não consegui mais parar de correr atrás de suas obras em português, por sorte, várias sendo publicadas pela mesma editora, ano após ano.
Mas confesso que "As Cidades Invisíveis" e "Se Um Viajante" foram dois livros que eu não entendi.
J.Cataclism