quinta-feira, 26 de abril de 2012

Fora de Série: Outliers

Por Guilherme

Malcolm Gladwell é um jornalista canadense cuja especialidade é escrever obras de um gênero chamado por americanos e ingleses de “smart thinking”, ou seja, livros com ideias originais, aparentemente incomuns, que explicam (ou tentam explicar) os mais variados aspectos do comportamento humano.
      Gladwell mantém a mesma fórmula em Fora de Série: Outliers (Sextante, 2008), obra na qual tenta explicar porque algumas pessoas prosperam em suas atividades enquanto outras, igualmente capazes intelectualmente, não. A justificativa, para o autor, é um conjunto de fatores sociais, entre eles ter nascido no local e no momento certo, e estar em um ambiente adequado para seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Para embasar a sua teoria, Gladwell apresenta diferentes exemplos, aparentemente desconexos, que vão sendo interligados ao longo dos nove capítulos do livro. A data de nascimento de jogadores de hockey canadenses, o ano de nascimento de gênios da informática e da advocacia, aliado ao local onde eles viviam no começo da adolescência, a nacionalidade dos pilotos de avião, o número de horas de prática de determinada atividade, como a música – todos esses fatores parecem estar associados ao sucesso dos profissionais, e aumentam a probabilidade de que um deles seja um fora de série.
      Outliers é um livro interessante e de rápida leitura. Nele, Gladwell justifica a fama de bom contador de histórias e a habilidade em juntar casos distintos para explicar um panorama maior. No entanto, a base do livro é bastante óbvia: um sujeito fora de série, como Bill Gates ou Paul McCartney, deve ter uma habilidade natural e uma facilidade em desenvolver seu trabalho com qualidade, além de estar no local certo, na hora certa, encontrando pessoas certas. Isso não é novidade alguma.
      Após terminar Outliers fiquei pensando em um argumento que li há algum tempo, e que de certa maneira ilustra a teoria de Gladwell. Gandhi foi um grande líder pacifista porque era, acima de tudo, uma boa pessoa, motivada por ideais nobres. Entretanto, as circunstâncias foram fundamentais para que sua luta tivesse sucesso. Imagine se Gandhi tivesse nascido na Europa, na década de 1910, e durante a Segunda Guerra Mundial estivesse em luta contra a Alemanha. Certamente seus esforços pacifistas não teriam qualquer valia, já que ele seria morto pelos nazistas em sua primeira manifestação pela paz. Imagino quantas pessoas de índole semelhante a Gandhi habitaram a Europa na época da Segunda Guerra, e penso no tremendo azar que elas tiveram por encontrarem-se em tais circunstâncias.
      Questões alheias a nós, como mostrou Gladwell, podem nos tornar Outliers. Elas podem, da mesma forma, nos destruir.

2 comentários:

  1. Olá!
    Pensei em comprar esse livro um dia desses. Meu interesse aumentou mais ainda com a sua resenhaCom sua resenha.

    Guilherme, acompanhado seu blog, e já li varios livros que voce comentou por aqui.
    Gostaria de uma dica. No texto voce fala de Gandhi, tenho muita vontade de ler um livro sobre ele... algo que fale sobre suas ideias, maneiras de pensar, suas realizaçoes... Voce pode me indicar algum?

    Abraços,
    Erika

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  2. Oi Erika,

    Não conheço nenhum livro sobre Gandhi, mas deve existir alguma boa biografia dele disponível em português.
    Aproveito e indico a você a leitura das obras de Henry David Thoreau, um pensador americano que influenciou boa parte dos líderes pacifistas do século XX, como Gandhi e Luther King. Dos trabalhos de Thoreau, o mais famoso é o manifesto "A desobediência civil", um pequeno ensaio que discute as obrigações morais do indivíduo com a sociedade e o Estado. Vale a pena ler também "Walden", um relato dos anos de isolamento de Thoreau em um bosque do nordeste dos EUA.

    Um abraço
    Guilherme

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