Irvin
Yalom, em seu ótimo De Frente Para o Sol
(Agir, 2008), afirmou que podemos viver eternamente através de nosso legado, ou
seja, nossa essência continua naquilo que fizemos de melhor e de mais valoroso.
Não considero legado como algo necessariamente grandioso, pois creio que muito
daquilo que tratamos como pequeno (nossos gestos, bons exemplos e boas
atitudes) sobrevive a nós em nossos amigos e familiares. É algo parecido com o
que o filósofo Mark Rowlands escreveu sobre memória e lembranças:
“É em nossas vidas, e não, fundamentalmente,
em nossas experiências conscientes, que encontramos as lembranças dos que se
foram. Nossa consciência é instável, não é digna do trabalho de se lembrar. O modo
mais importante de se lembrar de alguém é ser a pessoa em que este alguém nos
transformou – pelo menos em parte – e viver a vida que ele nos ajudou a moldar.
Às vezes, ele não merece ser lembrado. Neste caso, nossa tarefa existencial
mais importante é removê-lo da narrativa de nossas vidas. Mas, quando ele merece
ser lembrado, levarmos uma vida que ele ajudou a moldar não é apenas um modo de
nos lembrarmos dele; é como honrarmos sua memória.”
Inovar,
pesquisar, desenvolver grandes ideias, resolver problemas e apontar caminhos
são também um legado dos mais importantes. Dos autores que costumo ler, três foram
pessoas além de seu tempo: Charles Darwin, Ralph Emerson e Henry Thoreau. Seus
trabalhos nos permitiram observar e entender os seres humanos como não havíamos
feito antes. Darwin, com suas ideias de seleção natural e ancestralidade comum,
colocou o homem em seu devido lugar, no meio dos demais animais. Emerson e
Thoreau, ao refletirem sobre a vida humana, mostraram que podemos ser muito
mais do que costumamos ser, e que a busca do desenvolvimento intelectual e moral
deve ser uma meta em nossa vida, não um luxo ou uma superficialidade.
Tenho
quase todas as obras de Darwin, Emerson e Thoreau em minha biblioteca. Ainda
fico impressionado com a qualidade dos escritos desses autores. Creio que o
legado deixado por eles será apreciado por muitas gerações que estão por vir.
Na verdade, torço por isso.
Pode
parecer estranho, mas pensei na questão do legado ao assistir ao cantor Ritchie
interpretar, em um programa de TV, All
you have to do is dream, sucesso na versão dos Everly Brothers. A música
foi feita em 1958, e contrasta com o que temos ouvido na última década, pelo
menos aqui no Brasil. Ouvi a música, pensei naquilo que faz sucesso hoje, e
tive certeza que o clássico dos Everly Brothers vai perdurar, e torço para que
seja do mesmo jeito que as obras de Darwin, Emerson e Thoreau.