segunda-feira, 30 de julho de 2012

Trabalhos eternos

Por Guilherme

Irvin Yalom, em seu ótimo De Frente Para o Sol (Agir, 2008), afirmou que podemos viver eternamente através de nosso legado, ou seja, nossa essência continua naquilo que fizemos de melhor e de mais valoroso. Não considero legado como algo necessariamente grandioso, pois creio que muito daquilo que tratamos como pequeno (nossos gestos, bons exemplos e boas atitudes) sobrevive a nós em nossos amigos e familiares. É algo parecido com o que o filósofo Mark Rowlands escreveu sobre memória e lembranças:

É em nossas vidas, e não, fundamentalmente, em nossas experiências conscientes, que encontramos as lembranças dos que se foram. Nossa consciência é instável, não é digna do trabalho de se lembrar. O modo mais importante de se lembrar de alguém é ser a pessoa em que este alguém nos transformou – pelo menos em parte – e viver a vida que ele nos ajudou a moldar. Às vezes, ele não merece ser lembrado. Neste caso, nossa tarefa existencial mais importante é removê-lo da narrativa de nossas vidas. Mas, quando ele merece ser lembrado, levarmos uma vida que ele ajudou a moldar não é apenas um modo de nos lembrarmos dele; é como honrarmos sua memória.

Inovar, pesquisar, desenvolver grandes ideias, resolver problemas e apontar caminhos são também um legado dos mais importantes. Dos autores que costumo ler, três foram pessoas além de seu tempo: Charles Darwin, Ralph Emerson e Henry Thoreau. Seus trabalhos nos permitiram observar e entender os seres humanos como não havíamos feito antes. Darwin, com suas ideias de seleção natural e ancestralidade comum, colocou o homem em seu devido lugar, no meio dos demais animais. Emerson e Thoreau, ao refletirem sobre a vida humana, mostraram que podemos ser muito mais do que costumamos ser, e que a busca do desenvolvimento intelectual e moral deve ser uma meta em nossa vida, não um luxo ou uma superficialidade.
Tenho quase todas as obras de Darwin, Emerson e Thoreau em minha biblioteca. Ainda fico impressionado com a qualidade dos escritos desses autores. Creio que o legado deixado por eles será apreciado por muitas gerações que estão por vir. Na verdade, torço por isso.

Pode parecer estranho, mas pensei na questão do legado ao assistir ao cantor Ritchie interpretar, em um programa de TV, All you have to do is dream, sucesso na versão dos Everly Brothers. A música foi feita em 1958, e contrasta com o que temos ouvido na última década, pelo menos aqui no Brasil. Ouvi a música, pensei naquilo que faz sucesso hoje, e tive certeza que o clássico dos Everly Brothers vai perdurar, e torço para que seja do mesmo jeito que as obras de Darwin, Emerson e Thoreau.


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