O
livro mais vendido da história, a Bíblia, é a versão religiosa de diferentes
aspectos da vida, desde a sua criação até os princípios éticos da convivência
humana. Vários cientistas e filósofos ofereceram uma visão secular (ou seja,
não religiosa) das mesmas coisas, falando da evolução das espécies por seleção
natural e da moralidade com o rigor do pensamento racional e da argumentação
bem estruturada. Sobre evolução, vale a pena consultar o trabalho de Ernst Mayr
e Richard Dawkins, e há ótimos livros desses autores publicados aqui no Brasil.
Sobre ética e moralidade, apesar de eu não ser filósofo, indico as obras de Colin
McGinn, John Rawls, Peter Singer, Simon Blackburn, Mark Rowlands e A.C.
Grayling, embora não seja tão fácil encontrar os livros de alguns deles em
português.
Uma ótima iniciativa de juntar questões
históricas e morais sob uma perspectiva secular está em O Livro dos Livros: uma Bíblia humanista, do filósofo inglês A.C.
Grayling (O título original é The Good
Book: a humanist Bible. A versão em português foi publicada em Portugal
pela Editora Lua de Papel em 2011, mas a obra ainda não foi editada no Brasil).
O Livro dos Livros está organizado nos
moldes da Bíblia, com capítulos e versículos em catorze livros: Génesis, Sabedoria, Parábolas, Concórdia, Lamentações, Consolações,
Sábios, Canções, Histórias, Provérbios, O Legislador, Actos, Espístolas e O Bem, a última parte do livro, dedicada, como o próprio nome deixa
transparecer, à moralidade.
Estou com o livro em mãos, pronto para
percorrer as suas quase 700 páginas. Como todo leitor curioso, passei
rapidamente pelos capítulos da obra, e me detive em alguns de especial
interesse. Transcrevo abaixo um trecho da parte que encerra o livro. As ideias
expostas nesse trecho mostram que, independentemente de termos ou não algum
tipo de crença religiosa, nossas vidas devem ser guiadas por alguns princípios
universais de conduta que incorporem o respeito aos outros, a boa
intencionalidade das ações e a abertura para o diálogo e o entendimento.
“Devemos perguntar quais os mandamentos a
seguir / Ou faríamos melhor em perguntar, a cada um de nós: / Que tipo de
pessoa devo ser? / A primeira pergunta assume que existe uma resposta certa / A
segunda assume que há várias respostas certas / Se perguntarmos como responder à
segunda pergunta, a resposta apresenta-se com outras perguntas: / O que devemos
fazer quando vemos outra pessoa a sofrer, a passar necessidades, com medo ou
fome? / Quais são as causas justas, que mundo idealizamos para os nossos filhos,
para brincarem na rua com segurança? / Há muitas perguntas do género, algumas
que dispensam resposta, outras a que não temos como responder / Mas quando
todas as respostas a todas as perguntas são condensadas, ninguém ouve menos do
que isto: / Ama bem, procura o bem em todas as coisas, não faças mal a ninguém,
pensa pela tua própria cabeça, sê responsável, respeita a natureza, dá o teu
melhor, informa-te, sê amável, sê corajoso: pelo menos, faz um esforço sincero
/ E a estas dez obrigações, junta mais uma: meus amigos, que sejamos sempre
fiéis a nós mesmos e ao melhor das coisas, para que possamos ser sempre fiéis
uns aos outros.”
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