segunda-feira, 23 de julho de 2012

Paranormalidade, por Richard Wiseman


Por Guilherme

Casas mal assombradas, pessoas que falam com os mortos, outras que têm o poder de ler a mente de quem está próximo, ou mesmo prever acontecimentos futuros, animais que sabem quando seus donos estão retornando para casa, sonhos premonitórios. Nada disso, para o psicólogo britânico Richard Wiseman, pode ser considerado como um evento paranormal. Pelo contrário, o estudo de como nos comportamos e como vemos e sentimos as coisas pode explicar, naturalmente, circunstâncias aparentemente muito estranhas.
    Em Paranormality: why we see what isn’t there (Macmillan, 2011 – Paranormalidade: por que vemos o que não está lá, em uma tradução livre, já que o livro ainda não foi publicado no Brasil), Wiseman aborda temas distintos, considerados inexplicáveis para muitos, acomodados em sete capítulos: adivinhando o futuro, experiências extra-corporais, a mente e a matéria, falando com os mortos, caçando fantasmas, controle mental e profecias.
    Durante a obra, o autor joga luz sobre diversos mitos e lendas urbanas, mostrando que muitas coisas não são exatamente como pensamos que são. Por exemplo, as famosas histórias em que Abraham Lincoln teria sonhado com a própria morte e que os gurus indianos têm poderes sobrenaturais podem ser muito bem explicadas com um pouco de conhecimento em psicologia, em ideias científicas pouco conhecidas pelo grande público, como a lei dos grandes números, e por coincidências.
        É difícil selecionar os aspectos mais interessantes de uma ótima obra como a de Wiseman (existem poucas obras tão boas sobre o assunto e, por isso, torço para que o livro seja publicado em breve por aqui). No entanto, escrevo abaixo sobre duas histórias incríveis (e tristes) que mostram como podemos ser enganados facilmente e sem que percebamos. Aliás, uma das premissas de Wiseman é justamente essa: fomos feitos para sermos enganados, e por isso é importante desconfiar de alegações extraordinárias e pedir boas evidências quando somos apresentados a algo fora do comum.

- No início da década de 1980, um sujeito estranho chamou a atenção da mídia americana. Trajado como um praticante de artes marciais orientais e fundador do chamado “Institute of Shaolin Gung Fu”, James Hydrick dizia estar pronto para ajudar outras pessoas a se desenvolverem na arte do “Gung Fu Shaolin” e, principalmente, em habilidades psicocinéticas. Hydrick demonstrava suas habilidades mentais extraordinárias movendo objetos e virando a página de guias telefônicos. Fazendo isso, foi apresentado em vários programas de auditório americanos. E, para sua infelicidade, também chamou a atenção do mágico James Randi, o famoso sujeito que oferece um milhão de dólares a quem provar possuir algum poder paranormal (até hoje ninguém conseguiu).
Finalmente, em 1981, Randi e Hydrick se encontraram no palco do programa That’s my line. Na primeira parte do programa, Hydrick realizou as suas demonstrações, e depois Randi entrou em cena para explicar a fonte do “poder” de Hydrick. Clique aqui e aqui e acompanhe o final da história (apesar de as legendas não estarem muito boas).

- Jim Jones era considerado um eloquente pastor americano que conseguia passar mensagens positivas para pessoas de diferentes etnias em uma época de segregação racial nos Estados Unidos. Além disso, era bem considerado por ajudar drogados, viciados em álcool e pobres. Em 1965, Jones afirmou ter tido uma visão extraordinária, na qual o meio oeste americano seria alvo de um ataque nuclear. Com medo (e com uma grande habilidade oratória), ele convenceu seus seguidores a irem até a Califórnia, onde estariam a salvo. Nada aconteceu, mas na década de 1970, a pressão de diversos setores da sociedade americana sobre ele e seu grupo estava aumentando. Jones queria que seus seguidores se comprometessem mais com sua causa, de modo que teriam que abandonar suas comunidades, e até suas famílias.
Ao convencer seus fiéis de que eles teriam o caminho do paraíso se o acompanhassem, Jones acabou levando-os ao inferno. Em 1974, o grupo foi à Guiana, e lá se assentou. O resto da história é bastante conhecido (você pode ler mais sobre o assunto clicando aqui). Infelizmente, a saga de Jim Jones e de seu séquito de fanáticos é um dos maiores exemplos do poder da lavagem cerebral e controle mental na história recente. As mais de novecentas mortes em “Jonestown” são também um lembrete de quão importante é pensarmos por conta própria e com clareza, buscando argumentos sólidos para embasar nossas decisões e fugindo da manipulação, que oculta interesses muitas vezes contrários aos nossos.

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