Por
Guilherme
Casas
mal assombradas, pessoas que falam com os mortos, outras que têm o poder de ler
a mente de quem está próximo, ou mesmo prever acontecimentos futuros, animais
que sabem quando seus donos estão retornando para casa, sonhos premonitórios. Nada
disso, para o psicólogo britânico Richard Wiseman, pode ser considerado como um
evento paranormal. Pelo contrário, o estudo de como nos comportamos e como
vemos e sentimos as coisas pode explicar, naturalmente, circunstâncias
aparentemente muito estranhas.
Em Paranormality:
why we see what isn’t there (Macmillan, 2011 – Paranormalidade: por que vemos o que não está lá, em uma tradução
livre, já que o livro ainda não foi publicado no Brasil), Wiseman aborda temas
distintos, considerados inexplicáveis para muitos, acomodados em sete
capítulos: adivinhando o futuro, experiências extra-corporais, a mente e a
matéria, falando com os mortos, caçando fantasmas, controle mental e profecias.
Durante a obra, o autor joga luz sobre
diversos mitos e lendas urbanas, mostrando que muitas coisas não são exatamente
como pensamos que são. Por exemplo, as famosas histórias em que Abraham Lincoln
teria sonhado com a própria morte e que os gurus indianos têm poderes
sobrenaturais podem ser muito bem explicadas com um pouco de conhecimento em
psicologia, em ideias científicas pouco conhecidas pelo grande público, como a
lei dos grandes números, e por coincidências.
É difícil selecionar os aspectos mais
interessantes de uma ótima obra como a de Wiseman (existem poucas obras tão boas
sobre o assunto e, por isso, torço para que o livro seja publicado em breve por
aqui). No entanto, escrevo abaixo sobre duas histórias incríveis (e tristes) que
mostram como podemos ser enganados facilmente e sem que percebamos. Aliás, uma
das premissas de Wiseman é justamente essa: fomos feitos para sermos enganados,
e por isso é importante desconfiar de alegações extraordinárias e pedir boas
evidências quando somos apresentados a algo fora do comum.
-
No início da década de 1980, um sujeito estranho chamou a atenção da mídia
americana. Trajado como um praticante de artes marciais orientais e fundador do
chamado “Institute of Shaolin Gung Fu”, James Hydrick dizia estar pronto para
ajudar outras pessoas a se desenvolverem na arte do “Gung Fu Shaolin” e,
principalmente, em habilidades psicocinéticas. Hydrick demonstrava suas
habilidades mentais extraordinárias movendo objetos e virando a página de guias
telefônicos. Fazendo isso, foi apresentado em vários programas de auditório
americanos. E, para sua infelicidade, também chamou a atenção do mágico James
Randi, o famoso sujeito que oferece um milhão de dólares a quem provar possuir
algum poder paranormal (até hoje ninguém conseguiu).
Finalmente,
em 1981, Randi e Hydrick se encontraram no palco do programa That’s my line. Na primeira parte do
programa, Hydrick realizou as suas demonstrações, e depois Randi entrou em cena
para explicar a fonte do “poder” de Hydrick. Clique aqui e aqui e acompanhe o final da
história (apesar de as legendas não estarem muito boas).
-
Jim Jones era considerado um eloquente pastor americano que conseguia passar
mensagens positivas para pessoas de diferentes etnias em uma época de
segregação racial nos Estados Unidos. Além disso, era bem considerado por
ajudar drogados, viciados em álcool e pobres. Em 1965, Jones afirmou ter tido
uma visão extraordinária, na qual o meio oeste americano seria alvo de um
ataque nuclear. Com medo (e com uma grande habilidade oratória), ele convenceu
seus seguidores a irem até a Califórnia, onde estariam a salvo. Nada aconteceu,
mas na década de 1970, a pressão de diversos setores da sociedade americana
sobre ele e seu grupo estava aumentando. Jones queria que seus seguidores se
comprometessem mais com sua causa, de modo que teriam que abandonar suas
comunidades, e até suas famílias.
Ao
convencer seus fiéis de que eles teriam o caminho do paraíso se o acompanhassem,
Jones acabou levando-os ao inferno. Em 1974, o grupo foi à Guiana, e lá se
assentou. O resto da história é bastante conhecido (você pode ler mais sobre o
assunto clicando aqui). Infelizmente, a saga de Jim Jones e de seu séquito de
fanáticos é um dos maiores exemplos do poder da lavagem cerebral e controle
mental na história recente. As mais de novecentas mortes em “Jonestown” são
também um lembrete de quão importante é pensarmos por conta própria e com
clareza, buscando argumentos sólidos para embasar nossas decisões e fugindo da
manipulação, que oculta interesses muitas vezes contrários aos nossos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário