domingo, 13 de janeiro de 2013

Tudo o Que Sei Aprendi Com a TV


Entre minhas releituras de férias está Tudo o Que Sei Aprendi Com a TV: a filosofia nos seriados de TV, de Mark Rowlands (Ediouro, 2008). No livro, Rowlands usa séries de TV para introduzir temas filosóficos, como o sentido do amor, a felicidade, o bem e o mal, e a moralidade. O trecho abaixo está no capítulo em que Rowlands trata do amor e da amizade, tendo a série Friends como pano de fundo:

“Aristóteles argumentava que o tipo de pessoa que gostaríamos de ter como amigos são aqueles semelhantes a nós no caráter, que não guardam rancor, que têm o mesmo objetivo, desejos e aspirações que nós, que têm um temperamento calmo e moderado, que são justos e imparciais, que nos admiram e a quem admiramos, e assim por diante. Não é divertido andar com pessoas briguentas ou muito agressivas, ou que começam a fazer fofoca assim que você dá as costas, ou que humilham você na sua cara. Também não é divertido andar com pessoas injustas ou parciais – talvez porque esperem muito mais de você do que estão dispostas a oferecer em troca. Ou que estejam tão absorvidas consigo mesmas que adoram falar sobre si mesmas e sobre o que está acontecendo com elas, e cortam você tão logo tente falar sobre o que está acontecendo com você. Todos conhecemos gente assim.
        Se há duas coisas que se destacam do que Aristóteles escreveu sobre a amizade, essas são (1) igualdade e (2) empatia. A verdadeira amizade só pode existir entre pessoas que são iguais, pelo menos aproximadamente. Não dá para ser amigo de uma pessoa pegajosa; também não dá para ser amigo de alguém que se acha superior. Mas é mais do que igualdade aproximada. É a capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, entender o que está pensando ou sentindo, perdoar quando se deve perdoar, e dizer o que pensa quando achar que isso é necessário. Trata-se de um equilíbrio delicado: existe uma linha tênue entre o perdão e a negligência da amizade, e mais tênue ainda entre dar sua opinião e ser intrometido ou opressor. Esse equilíbrio pode ser alcançado algumas vezes – mas é muito difícil de manter o tempo todo. Mas uma coisa é clara. Pelo que diz Aristóteles, as melhores pessoas produzem os melhores amigos – é por isso que Aristóteles dedica a maior parte de sua famosa obra sobre a ética, Ética a Nicômaco, à questão de como ser uma pessoa digna de amizade ou philia. Ser uma pessoa ética ou moral, para Aristóteles, é parte e parcela do projeto de se tornar alguém que as pessoas irão querer como amigo. Essa é uma das razões mais importantes para ser uma boa pessoa – uma boa pessoa tem bons amigos.
        Reconhecemos que há tipos de amizade inferiores. E, para muitos de nós, isso pode parecer deprimentemente familiar. O tipo de amizade mais baixa baseia-se no prazer ou utilidade proporcionados pela companhia do outro. Talvez você precise de companhia para cair na farra, por exemplo. Pode não aguentá-los quando está sóbrio, mas a bebida alivia o aborrecimento. Além disso, pode se livrar deles depois. Ou talvez simplesmente seja útil ser visto com alguém. As amizades inferiores são passatempos – uma maneira de matar o tempo ou de conseguir algo que você quer independentemente da amizade. As amizades inferiores são, numa palavra, um meio, e não um fim. E uma vez alcançado o fim, ou caso você perceba que ele nunca será alcançado, a amizade acaba.”

2 comentários:

  1. Obrigada pela reflexão Guilherme.
    Não sou favorável a relacionamentos por interesse, sejam quais forem. É muita superficialidade, muito egoísmo e pouco se aproveita disso.

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  2. Concordo, Ceres,

    E por isso é difícil achar mais de meia dúzia de pessoas a quem podemos chamar verdadeiramente de "amigos".

    Um abraço
    Guilherme

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