domingo, 26 de setembro de 2010

“Como eu seria feliz se fosse feliz!”

Por Guilherme

A frase que entitula este post, atribuída a Woody Allen e presente nos livros do filósofo francês André Comte-Sponville, pode ser considerada uma das principais ideias que representam o pensamento desse filósofo. Todo ser humano busca o que chamamos de felicidade mas, na opinião de Sponville, somos infelizes exatamente por isso. Enquanto esperamos ansiosamente pela felicidade, nossa vida segue, e não nos preocupamos nem valorizamos o momento presente, que é tudo o que temos.
            Em A Felicidade, Desesperadamente (Martins Fontes, 2005), Sponville discute a questão da felicidade e traz ideias bastante interessantes (e pouco comuns) a esse respeito. De acordo com ele, deveríamos nos “desesperar” para sermos felizes. Desespero, no sentido tratado pelo filósofo francês, não é a infelicidade extrema, e sim a inexistência de esperança. Poderíamos dizer que não é a esperança, nem a desesperança, no sentido habitual do termo. Sentiríamo-nos melhor se nos desapegássemos das coisas e não esperássemos por nada do futuro. Desse modo, evitaríamos as decepções e o sofrimento provenientes da não realização de nossos objetivos. As ideias de Sponville em relação à felicidade são semelhantes às budistas. Ambas consideram o apego e o desejo como caminhos para o sofrimento. Também valorizam o momento presente em detrimento de projetos futuros e fatos passados.
            Em nossa sociedade, podemos observar diariamente as grandes doses de infelicidade experimentadas pelos indivíduos que vivem buscando o consumo de novidades e anseiam por mais e mais coisas materiais, sempre. Obviamente, os desejos de consumo de alguém não podem ser sempre atendidos. A não satisfação desses desejos está criando uma geração de frustrados. A solução para diminuir a frustração? Talvez um pouco mais de desapego.
            É difícil seguir os preceitos de Sponville em sua íntegra. Somos seres humanos, animais sociais e, por isso, inevitavelmente nos apegamos a outras pessoas. O apego a alguns objetos pessoais também pode parecer inevitável, mas é possível nos habituarmos a consumir menos, diminuindo assim a falsa necessidade de possuir cada vez mais coisas. Além do desapego, outro conselho de Sponville é aproveitar melhor o presente. O que aconteceu ontem já passou, portanto não existe mais. O que está por acontecer também não existe, e por isso não deve ser motivo de preocupação para nós. Isso não significa que não devamos nos lembrar das coisas boas que nos aconteceram no passado e de nossos planos para o futuro. Significa que passado e futuro não devem atrapalhar o nosso presente.
            A síntese da ideia de felicidade de André Comte-Sponville encontra-se no final de A Felicidade, Desesperadamente:

            “A felicidade não é um absoluto, é um processo, um movimento, um equilíbrio, só que instável (somos mais ou menos felizes), uma vitória, só que frágil, sempre a ser defendida, sempre a ser continuada ou recomeçada. Não sonhemos a sabedoria; paremos, ao contrário, de sonhar nossa vida!
            Não se trata de impedir de esperar, nem de esperar o desespero. Trata-se, na ordem teórica, de crer um pouco menos e de conhecer um pouco mais; na ordem prática, política ou ética, trata-se de esperar um pouco menos e agir um pouco mais; enfim, na ordem afetiva ou espiritual, trata-se de esperar um pouco menos e amar um pouco mais.”

Para conhecer um pouco mais as ideias de André Comte-Sponville, leia a entrevista do autor para a revista Vida Simples, em
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/090/conversa/conteudo_537818.shtml

3 comentários:

  1. "(...)pelos indivíduos que vivem buscando o consumo de novidades e anseiam por mais e mais coisas materiais, sempre."

    Ôh, nem me fala! hehehehe
    Muito obrigado pela dica do livro; Ainda não tinha sequer ouvido falar, mas gostei muito do texto de vocês aqui.

    Como é que eu demorei TANTO a descobrir este blog?!
    :-/


    J.Cataclism
    Caxias do Sul

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  2. Guilherme, parabéns pelo seu texto sobre o livro. o livro é realmente mt bom. Sou filósofo e compartilho desta idéia de não colocar a felicidade lá na frente e não esperar. Ao invés, agir. Tem 1 entrevista com o Comte-Sponville na Época:

    http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76063-6014-450,00.html

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  3. Oi Mario,

    Grato pela participação, e pela indicação da entrevista do Comte-Sponville, que eu não havia lido.

    Um abraço!
    Guilherme

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