Em
1846, o americano Henry David Thoreau foi preso por uma noite por recusar-se a
pagar os impostos que devia ao governo americano. O motivo da recusa era que
Thoreau pensava que seu dinheiro ajudaria a financiar a guerra que os Estados
Unidos travavam com o México, além da manutenção de escravos em fazendas
americanas. Em relação ao governo, Thoreau era adepto da máxima “o melhor
governo é o que menos governa”, que levaria a “o melhor governo é o que
absolutamente não governa”, considerando que tivéssemos uma sociedade composta
por homens de “virtude”, como Thoreau costumava escrever.

“Falando em termos práticos, os adversários
de uma reforma em Massachusetts não são 100 mil políticos do Sul, mas 100 mil
comerciantes e fazendeiros daqui, que estão mais interessados no comércio e na
agricultura do que na humanidade, e não estão preparados para fazer justiça aos
escravos e ao México, custe o que custar.”
“Há muitos que, considerando-se filhos de
Washington e Franklin, ficam sentados de braços cruzados e dizem não saber o
que fazer, e nada fazem; muitos que até mesmo subordinam a questão da liberdade
à questão do livre-comércio, e que lêem tranquilamente, depois do jantar, as
cotações do dia junto com as notícias vindas do México, e possivelmente
adormecem sobre ambas. Quanto vale um homem honesto e patriota nos dias de
hoje? Eles hesitam, lamentam e às vezes reivindicam; mas não fazem nada a sério
e para valer. Esperarão, com boa vontade, que outros curem o mal, para que eles
não mais tenham que lastimá-lo. Na melhor das hipóteses, eles se limitarão a
dar um voto fácil, um débil apoio e um desejo de boa sorte aos corretos, quando
a ocasião se apresentar.”
“Não é obrigação de um homem, evidentemente,
dedicar-se à erradicação de um mal qualquer, nem mesmo do maior que exista; ele
pode muito bem ter outras preocupações que o absorvam. Mas é seu dever, pelo
menos, manter as mãos limpas e, mesmo sem pensar no assunto, recusar o apoio
prático ao que é errado. Se eu me dedico a outros planos e atividades, devo
antes de mais nada garantir, no mínimo, que para realizá-los não estarei
pisando nos ombros de outro homem. Devo sair de cima dele para que também ele
possa perseguir seus objetivos.”
Recomendo a leitura da última edição
brasileira de A Desobediência Civil,
lançada em 2012 pela Companhia das Letras – Penguin. Além do manifesto A desobediência civil, a obra conta com
outros quatro textos, entre eles o ótimo Vida
sem princípios, ensaio no qual Thoreau crítica a ideia de que o trabalho
deve ser uma finalidade em nossas vidas, e elogia a vida contemplativa e
mentalmente sã.
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