sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Memórias de um Primata

O neurocientista Robert Sapolsky é um dos mais respeitados pesquisadores do efeito do estresse no organismo de seres humanos e de outros animais. Seu livro mais famoso, Por que Zebras Não Têm Úlceras? (Editora Francis, 2008), é uma obra muito lida e citada que trata de diversas questões relacionadas ao assunto (o que é, como surge, quais são os seus efeitos físicos e psicológicos, o que fazer para lidar com situações estressantes, etc) e traz os resultados do trabalho de Sapolsky com babuínos no Quênia. O cientista foi à África procurar por animais que viviam em grandes grupos para observar se a posição social dos indivíduos era determinante para seu nível de estresse. Acabou descobrindo que tanto os líderes do grupo como os animais subordinados apresentavam altos índices do hormônio cortisol, um dos indicadores do estresse. Em suma: é estressante dominar um grupo e ter que reafirmar seu domínio sempre que desafiado; do mesmo modo, ser o último animal a ter acesso a comida, não conseguir parceiras e ser vítima constante de ataques é viver diariamente sob estresse.
      De seu tempo na África, além de dados importantes sobre os mecanismos do estresse, Sapolsky trouxe inúmeras histórias curiosas. Em Memórias de um Primata: a vida pouco convencional de um neurocientista entre os babuínos (Companhia das Letras, 2004), o autor relata as mais engraçadas e emocionantes situações que viveu junto aos babuínos. A descrição de seus apertos por causa da ingestão de alimentos estranhos, do medo de ataques de búfalos, da sua interação com os habitantes locais e, principalmente, a maneira pela qual Sapolsy narra as relações entre os indivíduos de seu grupo de estudo, e dos babuínos com ele próprio, certamente irão agradar aos leitores que gostam de livros divertidos e informativos.
      Como acontece com todos os animais em nosso planeta, os amigos babuínos de Sapolsky também tiveram sua vida influenciada por outros seres humanos. A história, tratada no final do livro, é a parte mais emocionante de Memórias de um Primata. Aqui, o autor demonstra que além de ser um grande cientista é também um ser humano notável.

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