terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Livro da Minha Vida (1)

Por Guilherme

            Para qualquer pessoa que goste de ler, escolher uma obra para dizer que é "o" livro de sua vida é uma tarefa muito difícil. Não sou um grande leitor de romances, prefiro livros de filosofia popular e divulgação científica e, assim, o livro que marcou minha vida foge um pouco dos padrões. Escolheria Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas, de Robert Pirsig, que me trouxe grandes ideias e sempre me proporciona paz de espírito em momentos complicados. Mas como já escrevi sobre Zen em outro post, decidi falar de outra obra à qual frequentemente recorro quando estou em busca de pensamentos inspiradores: Walden, do americano Henry David Thoreau (1817-1862).
            Conheci os escritos de Thoreau por curiosidade, pois queria saber mais sobre a história de um cara que havia sido preso por não pagar impostos (que financiavam conflitos com o México e a escravidão nos EUA), e teria escrito seu principal manifesto (A Desobediência Civil) na cadeia. Depois, descobri que o autor era considerado um dos pais do pensamento anárquico, embora hoje em dia muitas pessoas se inspirem nele quando pregam a presença mínima do Estado na sociedade. Também soube que Thoreau foi o mentor intelectual de muitas revoluções silenciosas, como a de Gandhi na Índia. Como se isso não bastasse, o autor passou dois anos afastado (não completamente isolado, como se pensa), vivendo em uma cabana construída por ele próprio nas proximidades do lago Walden, no estado americano de Massachusetts. Essa experiência de fuga da civilização é relatada em Walden, publicado em 1854.
            Walden é uma homenagem à natureza e à simplicidade. Thoreau era um grande crítico do modo de vida de seus contemporâneos, que se preocupavam excessivamente com as aparências e o acúmulo de capital, deixando de lado virtudes como a constante busca pelo conhecimento (de si mesmo e do mundo) e o aprimoramento pessoal. Aliás, aprimoramento pessoal é uma ideia sempre presente nos escritos do autor. O americano não admitia que pudéssemos nos portar tão mal em relação às outras pessoas e à natureza. Para ele, cada um de nós tinha poder suficiente para, conscientemente, agir cada vez melhor, elevando moralmente sua própria vida e influenciando positivamente a de outros. Essa é, para mim, a ideia mais nobre em Walden.
            Admiro a obra de Thoreau porque nela encontrei o meu próprio pensamento sobre a conduta dos seres humanos. Custo a entender como algumas pessoas podem ser tão negligentes com as suas vidas, ou como não fazem a mínima questão de aprimorar-se, de buscar algo a mais. Para aqueles que imaginam que pode haver epitáfios diferentes de “Fulano de Tal, torcedor fanático do Pradense, que dirigia aos sábados à noite com o som explodindo e gostava de beber e jogar as garrafas de cerveja nas calçadas”, Walden é um sopro de esperança.


"O Livro de Minha Vida" é um projeto do Blog Página Virada. O blog publicará todas as quartas-feiras um post sobre uma obra que marcou a vida de alguém. Para participar, mande seu texto para paginaviradablog@yahoo.com.br

4 comentários:

  1. Bah!, gostei! Especialmente porque é outra obra que acabei de descobrir que encontra a "bagunça organizada" que todos deveríamos repensar, se não definitivamente, ao menos vez por outra.

    Isso foi uma das coisas que mais chamou minha atenção: "O americano não admitia que pudéssemos nos portar tão mal em relação às outras pessoas e à natureza.". Pelo jeito, o cara foi uma daquelas poucas cabeças que já percebia que, mesmo naquela época, a civilização já estava atrasada em perceber que "meio ambiente" (ou natureza) e "civilização" devem ser uma coisa só.

    E gostei do teu último parágrafo. Já tá anotada a dica do Thoreau. A propósito, depois de ter visto aqui sobre o Sponville, encomendei o "A Felicidade..." e gostei do começo.

    Falou!

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  2. Obrigado pelo comentário! O objetivo de nosso blog é incentivar a leitura e o gosto pela procura de novas ideias. Se conseguirmos influenciar positivamente alguém, nosso trabalho terá sido recompensado.

    Um abraço
    Guilherme

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  3. Ótima escolha literária, ótimo último parágrafo.
    Uma pena que os indivíduos citados neste estejam no momento lustrando seus veículos para mais um passeio dominical sem propósito ao invés de o lerem.
    Abraço fraternal.

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  4. Oi Ricardo,

    Obrigado pela visita e pelo generoso comentário. Essa seção, O Livro da Minha Vida, assim como o restante do blog, está aberta a colaboradores. Como sei que a leitura faz parte do teu cotidiano, e que você sempre escolhe boas obras para ler, fique à vontade para contribuir e enriquecer o blog.

    Um abraço
    Guilherme

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