quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando um Crocodilo Engole o Sol

Notícias vindas do Zimbábue não são muito comuns aqui no Brasil. Quando chegam, elas mostram, em sua maioria, os enormes problemas sociais e políticos vividos por esse país africano. Antes da Copa de 2010, a seleção brasileira aceitou fazer um amistoso contra o selecionado zimbabuano, na África, recebendo mais de R$ 2,5 milhões para isso. Além do absurdo que foi receber essa quantia de um país miserável, divulgou-se recentemente que a renda do jogo, de mais de 640 mil dólares, desapareceu!
      O Zimbábue é governado pelo ditador Robert Mugabe desde 1980. Seu governo é considerado um dos mais corruptos do planeta, com visões políticas pré-históricas, violadoras dos direitos humanos, homofóbicas, racistas e que levaram o país a um colapso econômico e social. Enquanto alguns países africanos têm melhorado consideravelmente seus índices sociais, no Zimbábue a situação atual é muito semelhante (pior em alguns aspectos) àquela do início do governo de Mugabe.
      Para entender um pouco do declínio do Zimbábue nas últimas décadas, uma boa leitura é Quando um Crocodilo Engole o Sol (Nova Fronteira, 2008), de Peter Godwin. O jornalista, um zimbabuano branco nascido em 1957, narra a vida de sua família em um país sob constante mudança. Invasões de terra, assassinatos, ameaças, corrupção e terror foram testemunhados por Godwin na África. Ao mesmo tempo em que a situação de seu país se degrada, o escritor tem que lidar com dramas familiares, já que seu pai, idoso e doente, e sua mãe, também debilitada, lutam para sobreviver em meio ao caos.
      Quando um Crocodilo Engole o Sol é uma narrativa brilhante sobre a vida familiar e social no Zimbábue em anos recentes. Godwin aborda com habilidade diversos aspectos do país africano como a desigualdade social, o racismo, a cultura do povo local, a formação de guerrilhas e, principalmente, a trajetória de Mugabe, inicialmente um salvador, e agora tirano. Ler o relato de Godwin sobre a situação do Zimbábue é desolador. Histórias como a dele e, principalmente, a de Philip Gourevich, sobre a guerra civil de Ruanda em 1994, descrita em Gostaríamos de Informá-lo de que Amanhã Seremos Mortos com Nossas Famílias (Companhia de Bolso, 2006) mostram o lado mais obscuro da humanidade que, de tempos em tempos, teima em aparecer.

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