O médico inglês Oliver Sacks é famoso pela habilidade com que relata a história de pacientes cujas vidas são impactadas por condições de saúde incomuns. Em Um Antropólogo em Marte (Companhia de Bolso, 2006), Sacks dá continuidade à sua celebrada carreira de escritor, iniciada com Enxaqueca (1970), detalhando os desafios diários enfrentados por sete indivíduos que possuem características especiais. Um deles é um pintor americano que, após sofrer um acidente automobilístico, passou a ver o mundo em preto e branco, apesar de perceber uma melhora na sua acuidade visual. Também há o incrível caso de outro pintor, o italiano Franco Magnani, nascido em 1934 na cidade de Pontito, próxima a Florença. Magnani é conhecido como “Um Artista da Memória” devido à sua capacidade de retratar detalhes de sua cidade natal sob praticamente qualquer ângulo. Uma visita ao site do pintor (http://francomagnani.com/default.aspx) revela a qualidade de sua obra. Até aqui, a história de Magnani não parece adequada para ser incluída em um livro que trata de condições médicas raras, afinal muitos artistas pintam muito bem utilizando apenas a memória fotográfica de algum objeto ou lugar. O fato extraordinário sobre o italiano é que ele deixou sua cidade natal em 1946, com 12 anos de idade, e em suas pinturas representava Pontito antes de 1943. Magnani parece ter ficado obcecado com a vida em sua cidade natal, e passou a retratá-la compulsivamente após ter sido internado em um sanatório nos Estados Unidos, país no qual escolheu viver após sair da Itália. Apesar de ter visitado Pontito algumas vezes após 1946, o artista sempre representava detalhadamente a cidade como ele a conhecia quando criança, no que parece um saudosismo bastante incomum.

Assim como nas histórias narradas por Sacks em suas outras obras, os setes pacientes de Um Antropólogo em Marte têm algo em comum: eles demonstram a incrível capacidade humana de se adaptar e seguir a vida contra grandes adversidades. Ao término da leitura poderemos entender melhor a citação do biólogo evolucionista J.B.S. Haldane no começo da obra:
“O universo não é mais excêntrico do que imaginamos, mas mais excêntrico do que podemos imaginar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário