terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um assassino entre nós

O clímax de Um assassino entre nós, de Ruth Rendell (L&PM, 2007), é anunciado já na primeira página:
     “Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever.
     Não houve nenhum motivo real e nenhuma premeditação; ninguém ganhou dinheiro nem segurança. Como resultado do crime, a deficiência de Eunice Pachman ficou conhecida não só por uma única família ou um punhado de cidadãos, mas por todo o país. Ela não conseguiu nada com isso além de desgraça para si e, desde o início, em algum lugar de sua mente estranha, ela sabia que não conseguiria nada. Mas, ainda que sua companheira e parceira fosse louca, Eunice não era. Ela tinha a terrível e prática sanidade do macaco atávico disfarçado de mulher do século XX.”
Porém, não importa tanto o desfecho ao qual é submetida a família Coverdale, mas sim os fatos que levam Eunice Parchman, a empregada doméstica, a assassinar friamente seus integrantes. Os Coverdale (o casal George e Jacqueline e os filhos Melinda e Giles) procuram uma funcionária para que a mãe não faça todo o trabalho de casa sozinha. Assim, Eunice se apresenta, e a família nem desconfia que suas ótimas referências são falsificadas.
Apesar de todas as gentilezas que lhe são dirigidas, Eunice é calada, estranha e por vezes grosseira. O que os Coverdale não sabem é que a nova funcionária guarda um segredo que, para ela, é terrível: ela é analfabeta. Eunice ignora que os bilhetes deixados pela dona da casa são ordens que ela deve cumprir; logo, as advertências que Jacqueline e George lhe dirigem por causa das tarefas não feitas começam a alimentar um incontrolável ódio na mulher. Todos os atos e gestos dos Coverdale passam a ser interpretados equivocadamente por Eunice, que acredita estar sendo vítima de uma espécie de conspiração. O leitor percebe, então, que o inevitável fim está para ocorrer.
Ruth Rendell constrói uma narrativa tensa, e o leitor, ao passar a simpatizar com as excentricidades dos Coverdale e a se assustar com a frieza de Eunice, torce para que a família consiga escapar de seu cruel destino. Um assassino entre nós, lançado em 1977, é, além de um clássico da literatura policial inglesa, uma crítica inteligente às diferenças entre as classes sociais da Grã-Bretanha da década de 1970.

Um comentário:

  1. As prazeirosas leituras de alguns "suspenses policiais"!

    :-D

    J.Cataclism

    ResponderExcluir